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Relato de viagem
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A Maior Viagem de Moto dentro do Brasil Passando por todas as Capitais Brasileiras

Chui ao Oiapoque x Oiapoque ao Chui: A Maior Viagem de Moto Dentro do Brasil Introdução Toda grande viagem de moto é planejada, sonhada e aguardada com ansiedade. Neste relato, compartilho a minha jornada de Chui ao Oiapoque, passando por todas as capitais brasileiras. A PartidaA Partida Cheguei a um encontro de motos com minha BMW GS 1100, que já tinha rodado 1.200 km. Ao convidar os presentes para ir a Manaus visitar minha neta recém-nascida, fui alvo de brincadeiras: "Com moto de mauricinho?" e "Viajante aposentado!". Às 23 horas, a GS fez seu primeiro zero, espalhando pedaços de pneus entre as motos "dos bons". Logo, o convite para a viagem de Chui ao Oiapoque, passando por Manaus, tomou forma. Preparativos PreparativosUma semana depois, a moto foi colocada em uma caminhonete, rumo a Chui, onde eu começaria e terminaria a viagem. No dia 5 de outubro, às 17:15, a moto começou a rodar. Os primeiros quilômetros foram desafiadores, com uma mistura de emoções. Após os 100 primeiros km, a moto encontrou seu equilíbrio, e eu relaxei ao som do vento no capacete. Teoria do 5º Elemento Confirmei a minha teoria: a moto é o 5º elemento. Na estrada, você sente no corpo os quatro elementos: água (chuva), terra (poeira), fogo (sol escaldante) e ar (vento). Desafios na Estrada Desafios na EstradaA viagem de Chui até a cidade de Rio Grande teve 220 km de reta. Devido ao enrolamento excessivo do cabo do acelerador, fiquei sem combustível no meio do nada. O manual da BMW dizia que a reserva era de 6 litros, mas na minha moto não chegava a 2 litros. Liguei para um guincho para trazer gasolina. Pergunto: quem é responsável pelo transtorno? A BMW do Brasil ou a revenda que me entregou a moto sem a revisão do tanque? Paradas e Revisões Passei a noite em Pelotas, segui para Porto Alegre e depois para Palhoça, onde fiquei dois dias resolvendo os últimos problemas. Próximo a Curitiba, a moto começou a falhar sob a chuva. Na revisão de mil quilômetros, o defeito que reclamei não foi resolvido. Na revenda BMW de Curitiba, descobri que o cabo do acelerador era maior que o outro. Com 2.400 km rodados, a revenda cobrou R$ 150,00 pela mão de obra, mas recusei a pagar, questionando a garantia. Encontros e Aventura Passei a noite em Assis (SP) e, no dia 9/10, saí cedo para Rondonópolis, onde fiquei na casa do Airton, um velho amigo com mais de 100.000 km rodados e algumas reportagens publicadas pela Duas Rodas. Na tarde do dia 9, entrei em Vilhena com 1.050 km rodados. Ao final do dia, cheguei a Porto Velho e me hospedei em um hotel 5 estrelas, desejando um banho quente. Conheci um membro dos Amazon Angels, que me apresentou a outros e me convidou para o encontro no sábado. A Volta Na quinta-feira, deixei o hotel com destino a Rio Branco (Acre), onde cheguei à tarde. A estrada era um misto de inferno e céu. Um policial me parou e questionou o motivo da minha visita. Respondi que não tinha satisfação a dar sobre meu trajeto, o que gerou um mal-entendido, mas a situação se acalmou com a chegada de um superior. No dia seguinte, retornei a Porto Velho, passando por Guajará Mirim, onde cruzei o Rio Madeira e vi o maior cemitério de balsas de garimpo do mundo. Aproveitei para comprar algumas joias de ouro a preços acessíveis e, à noite, cheguei a Porto Velho, onde um carro de som animava o encontro dos Amazon Angels. Amazon Angels e a Confraternização Os Amazon Angels admitem motos Chopper ou Custom e estão abertos a qualquer motociclista do Brasil que queira se integrar. Dormi na casa do Aires, vice-presidente do grupo. No domingo, um boi foi sacrificado para um churrasco de confraternização. A festa foi animada, e eu não queria que a noite terminasse, pois na segunda-feira enfrentaria a estrada de Porto Velho a Manaus. A Partida para Manaus Às 14 horas, deixei Porto Velho em direção a Humaitá. O asfalto ainda estava em bom estado, mas em Humaitá escutei de tudo: "Você é doido, não vai passar, vai morrer, tem muita onça e malária". Outros, no entanto, me encorajavam, dizendo que minha moto passaria bem, pois havia uma Kombi que faz o trajeto Porto Velho - Manaus toda semana. Como a sorte já estava lançada, comprei dois galões de gasolina, comida enlatada, bolachas, frutas, e me preparei para atravessar um trecho de 600 km sem gasolina e 340 km sem encontrar ninguém. O sono da noite anterior não foi bom; a incerteza e o desconhecido me mantinham alerta. A Estrada Infernal Acordei às 5:00 e, vestindo a bota, comecei o dia. Escovar os dentes não fazia mais sentido; cuidar do corpo quando a alma estava à beira do abismo parecia fútil. A moto roncava suavemente, tentando não acordar os maus espíritos da selva. Uma hora depois, o sol surgia, trazendo problemas como chuva, barro e pontes caídas. O percurso total de Porto Velho a Manaus era de 930 km, e eu ainda tinha 630 km pela frente. A Noite Desafiadora Agora são 22 horas e estou atolado na beira de um rio. Errei o caminho e uma balsa vem me buscar do outro lado, o custo do erro foi 20 reais e duas cervejas. Dormi numa casa abandonada. Durante o dia, aconteceu de tudo; nunca tinha dado tanto trabalho ao Grande Arquiteto do Universo. Peguei uma depressão no asfalto e voei por uns 15 metros, arranhando o tanque com o zíper da jaqueta. Saí de cima da moto, mas só tive uma hematoma na coxa esquerda. A moto se comportou como se estivesse no Paris-Dakar. Pouco depois, entrei numa cratera e arranquei um pedaço do cavalete central; novamente, a moto mostrou sua resistência. Encontro com a Onça Minutos depois, uma onça passou na minha frente e eu a observei entrando no mato. Olhei para o céu e disse em voz alta: "Sei que estou dando muito trabalho ao homem lá de cima, mas no final da viagem nós acertamos a conta". Na rede à prova de mosquitos, coberto de repelente, lembrava das crianças que vi, tantas delas com malária. As bolachas, maçãs e balas que trouxe foram distribuídas entre os menores. Esquentei uma lata de feijoada no motor da moto, que foi tudo o que consegui comer. O corpo liberou tanta adrenalina e endorfina que já era quase 1 hora da manhã e não conseguia dormir. Viajar em uma estrada assim é coisa de louco; se você cair e desmaiar, o sol acaba com você. Vi três caminhões vazios passando, cada um atolando e sendo puxado pelos outros até que alguém conseguisse passar pelo atoleiro. Chegando a Manaus Faltando 100 km para Manaus, nos últimos 30 km, levei 4 horas e ainda tinha mais 4 horas até a balsa. Com a chuva caindo há três dias, contratei uma picape para me dar apoio. Rodei 32 km e a moto impotente foi colocada na carroceria, enquanto eu, humilhado, servia de co-piloto. O atoleiro na entrada da terceira balsa (são quatro) levou quase 7 horas. Às 23 horas, finalmente entrei em Manaus, meio eufórico e meio frustrado. A visão da moto na carroceria de uma picape me acompanharia para o resto da vida. A Chegada e a Encontro com a Neta Durante quase 3 dias, tive a companhia de uma grande mulher que me deu todos os prazeres. A frustração de não completar o trecho determinado era maior do que a falta de um orgasmo com essa linda mulher. No hotel, o Aires do Amazon Angel me aguardava, trazendo parte da minha bagagem, enquanto Rui Guerra e Raimundo, ambos dos Mercenários de Manaus, garantiram que não me faltasse nada durante a estadia. Na madrugada, peguei no colo pela primeira vez a neta Victoria, o motivo inicial da viagem. Pensei em todos que poderiam estar comigo, compartilhando alegrias e frustrações, mas, por diversos motivos, ficaram em casa, cobertos pelas colchas dos fracos de espírito. Acordei com o choro de Victoria, que queria me mostrar que nem todos são iguais. Partindo para Boa Vista Devido à euforia de encontrar grandes amigos em Manaus, não percebi que já estava há três dias na cidade. Às 5 horas da manhã, fui acordado por Raimundo, que me escoltaria nos primeiros 100 km da Manaus-Boa Vista. Como bom harleiro, não passei dos 110 km/h. Rodamos 130 km, abasteci a moto e tomamos um belo café regional. Agora, era eu, a moto e o guardião. Por educação, saí devagar, acenando para Raimundo. Em pouco tempo, entrei na reserva dos índios Atroaris, e a velocidade não baixou dos 160 km/h. Cheguei a Boa Vista sob o sol alto. Encontros na Estrada Bati algumas fotos na praça do garimpeiro e segui para Santa Helena. A 50 km desta cidade, no meio do nada, encontrei um bar. Colado no vidro, vi o adesivo dos Tubarões do Asfalto, do Luiz, outro grande aventureiro que colou adesivos por todo o Brasil. Na hora, senti vontade de arrancar os adesivos, pensando em quem eram os Tubarões do Asfalto para tirar o brilho da minha viagem. Saí rindo dos meus pensamentos; o que eu realmente queria era um bom companheiro de viagem (além do guardião). Chegando a Santa Helena, percebi que do lado brasileiro não havia posto de combustível. Fui socorrido por uma CG e decidi dormir do lado da Venezuela, já que no lado brasileiro não havia hotel, embora toda comida e roupa fossem compradas no lado brasileiro pelos nossos irmãos venezuelanos. A Chegada em Manaus Às 7 horas, já estava na estrada novamente. Ontem rodei 1.070 km e queria chegar hoje em Manaus. Devido aos fusos horários, cheguei em Manaus às 19:00, após rodar 13 horas com poucas paradas. No caminho, atropelando um urubu, meu ombro ficou roxo. Se tivesse acertado o guidão da moto, esta história teria sido contada de outra forma. A Viagem para Belém e o Encontro com os Hell Angels Três horas após minha chegada a Manaus, a moto foi escoltada pelo Rui Guerra até o porto, onde seria embarcada em uma balsa junto com mais 20 carretas, com destino a Belém. Por ser gratuito e, devido à perda do meu mapa, não percebi que a melhor opção seria descer em Santarém e pegar outro barco ou balsa até Macapá, já que a distância Santarém-Macapá é equivalente à de Santarém-Belém. Enquanto a moto viajava para Belém, fui convidado por Jian, presidente do grupo Hell Angels, para um churrasco em sua imponente sede. Se alguém quiser se tornar um Hell Angel, procure o Jian ou o Rai em Manaus pelo telefone (92) 981-2113 e fax (92) 981-7781. A moto levou 5 dias para chegar em Belém, e no quarto dia já estava lá, esperando por ela. O custo do avião e do hotel era mais alto do que o melhor barco Manaus-Belém. Já havia feito esse trecho de balsa com outras motos, mas agora não tinha mais paciência para acompanhar a moto por cinco dias de monotonia. Embarcando para Macapá No dia 25 de outubro, às 10 horas, a moto e eu fomos embarcados com destino a Macapá. A moto foi colocada na proa, e eu fiquei em um camarote individual, o que custou R$200,00. O barco era algo de louco, com uma boate estilo trio elétrico. Enquanto o barco navegava, os funcionários ajustavam a antena parabólica, com dois tipos de "timão" para acertar os sinais horizontais e verticais. Fiquei pensando: "A necessidade faz o homem ficar inteligente". Após 24 horas, chegamos em Santana, pois o porto de Macapá fica na cidade vizinha. Passei na Varig para verificar se meu pneu traseiro havia chegado. Com a confirmação, informei ao funcionário que iria ao Oiapoque e que voltaria para pegar o pneu. Eram 12 horas quando passei pela única polícia rodoviária no estado do Amapá. Eles me deram um telefone para emergências, e saí meio eufórico para terminar os 50% da viagem. Estrada de Chão e Desafios Com 168 km percorridos, o asfalto acabou e entrei em uma estrada de chão. Após os primeiros 50 km, a moto encontrou novamente a velocidade ideal, rodando entre 60 km e 100 km por hora. A estrada era cheia de desafios; feita por garimpeiros há décadas, usaram a topografia do terreno sem se importar com a distância entre os pontos. Em trechos de 10 a 15 km, você pilotava com o sol em todas as direções. As curvas eram perigosas, feitas como em pistas de corrida, com declínio superior a 30%. Para carros, era uma beleza; para motos, você entrava em baixa velocidade e poderia derrapar para o centro da curva, onde poderia encontrar um carro vindo na direção oposta. Ao passar por um veículo e com o vento a seu favor, era melhor parar e esperar a poeira assentar. Hoje, entrei no mato, mas a sorte foi que era plano. Às 9 horas, com o sol ainda alto, decidi parar para dormir na cidade de Calçones. Se continuasse, não chegaria ao Oiapoque e teria que dormir no mato. Chegada ao Oiapoque No dia 27 de outubro, ao meio-dia, fiquei embaixo da placa que dizia "Bem-vindo ao Oiapoque". Tirei várias fotos rapidamente, pois um grande temporal estava se formando e mal tive tempo de guardar meu equipamento fotográfico. No hotel, alguém comentou que não sabia como cheguei até ali com aquele pneu. Em Calçones, já tinham me alertado que meu pneu estava careca, mas não dei ouvidos. Quando olhei para o pneu, percebi o erro de cálculo que havia feito. Achei que, na estrada de chão (com muitas pedras), o pneu não se desgastaria, mas, ao contrário, ele gastou mais do que no asfalto. Nunca tinha visto um pneu sem câmara com a lona completamente aparente. Foi bom não ter visto isso antes, pois passei confiante por mais de 50 pontes, acreditando que meu pneu aguentaria ir e voltar a Macapá. A Troca do Pneu Procurando por uma câmara de ar, encontrei um piloto de avião de garimpo que, por 30 reais, me trouxe meu pneu de Macapá. Toninho, que os anjos dos pilotos de garimpo te protejam! No dia 28, às 10 horas, comecei a trocar o pneu e percebi que a pastilha de freio traseira estava quebrada (lascada) em Manaus, quando retiramos do cardã uma linha de náilon que fazia o retentor vazar óleo. Depois de trocar o pneu, esperei até às 13 horas para abastecer a moto. Só havia um posto na cidade, e quando os grupos geradores paravam para manutenção, o posto não abastecia. No Oiapoque, a gasolina custava R$1,75. Com pneu novo e energia renovada, peguei muita chuva nos primeiros 100 km. Em comparação a Porto Velho - Manaus, aqui parecia um paraíso. A moto balançava um pouco devido ao peso. Em Tartarugazinha Às 10 horas da noite, cheguei em uma cidade chamada Tartarugazinha, tomei uma Coca-Cola e conheci um grupo de engenheiros da Eletronorte. Eles estavam ali esperando o “pau de enchente”, que ficou ali até a 1 da madrugada. Decidi dormir no único hotel da cidade, faltando 235 km para Macapá. Eram 65 km de chão e o restante de asfalto. Saí às 5 da manhã e, a 40 km de Macapá, outra CG da vida me deu gasolina, algo que estava virando costume. O pior é que ninguém quis receber meu dinheiro e acabei dando uma camiseta do grupo Roda Brasil. Entrei no porto às 10 horas, a tempo de embarcar a moto de volta a Belém. Não passei nem duas horas em Macapá. Desembarque em Belém No porto de Belém, tirar a moto foi um parto: ou eu esperava 6 horas para a maré subir e o convés do navio ficar no nível do cais, ou tirava a moto na mão. Por 40 reais, uns 10 homens ajudaram a retirar a moto. Para cada arranhão, descontavam 10 reais, conforme o que tinha sido combinado. Funcionou bem, e a moto não sofreu um arranhão. Fui almoçar com Marcelo, com quem já viajei, e que faz parte do governo do Amapá. O almoço era em celebração ao seu noivado. O Marcelo está à disposição de qualquer motociclista que precisar de informações sobre o estado do Amapá. Saí de Belém às 14 horas e vou dormir em Santa Inês. Já no Maranhão, entro em São Luís, tiro uma foto e procuro no correio as pastilhas de freio enviadas por Sedex, que ainda não tinham chegado. Peço para a BMW Officer mandar pastilha de freio para as duas rodas e um pneu dianteiro, porque não sei se o meu chega a Natal. Volto pela mesma estrada e vou dormir em Caxias, a pouco mais de 100 km de outra capital que tenho que fotografar. Às 10 horas já havia entrado e saído de Teresina. Às 19 horas já estava de banho tomado, percorrendo as praias de Fortaleza. O que chama a atenção nesta cidade são as motos-táxi, todas pintadas de verde-limão, prestando um bom serviço para pessoas de baixa renda ou para aquelas que gostam de curtir a vida do jeito que ela se apresenta. Hoje, qualquer corrida de táxi custa R$20,00; na moto, R$1,00. As motos-táxi não tiraram os passageiros dos táxis e sim dos ônibus. (Ou pobre anda de táxi?) Chego em Aracati às 11 horas e compro no mercado público 1 ½ kg de lagosta (só rabo). Meia hora depois, atolo a moto na praia de Canoa Quebrada. Adivinhe quem me socorreu... outra CG, que também me ensinou a andar nas trilhas dos buggies. Ainda existem grupos de motos que não aceitam motos de baixa cilindrada. 99% de todos os integrantes de todos os grupos de moto do Brasil iniciaram suas carreiras motociclistas a bordo de belas cinquentinhas, quando muito, uma CG. Hoje, esse povo cavalgando em suas possantes motos gospem no prato que já comeram. Se foram pobres um dia, agora não se lembram mais. Em Mossoró, há um hotel de águas termais com mais de 10 piscinas. É aí que vou descansar o velho esqueleto. No dia seguinte, entro em Natal e vou direto para a praia dos artistas; ali tem dezenas de hotéis baratos. Falo com o pessoal da BMW Officer. Eles mandaram o pneu pela Vaspex (o pior serviço de carga), que vai levar dois dias para chegar ao aeroporto. Ligo para um amigo comum, Macram Elali, de "Duas Rodas", e conheço a figura mais simpática do nordeste. Ele fez e criou o primeiro encontro de moto de Natal. Se continuar a ser feito por ele, vamos ter um segundo Mega Encontro no Brasil. O homem, além de ser um grande empresário, é doente pelo motociclismo. À noite, conheci o grupo Potiguar Moto Clube. No dia seguinte, vou atrás do meu pneu, que chegou com mais de 24 horas de atraso. O Elali mandou eu escolher a revenda de moto em Natal para trocar o pneu, a pastilha de freio, o óleo etc. A Suzuki só me cobrou o óleo e, mesmo assim, porque insisti no pagamento. Na saída de Natal, recebo do Elali uma lista com mais de dez grupos de moto do nordeste. Em João Pessoa, vou a Cabedelo rever onde começa a Transamazônica. Pouca gente sabe onde teve início esta rodovia. Na praia do Tambaú, a lista do Elali começa a funcionar. Encontrei todo o pessoal do Rota do Sol, fiquei das 13 horas até as 18 horas bebendo cerveja e comendo camarão. Às 20 horas, já estava com os Falcões da Serra, de Campina Grande, outro grande grupo que está surgindo no nordeste; nunca ri tanto. No domingo, me fizeram comer buchada de bode; a princípio hesitei, mas repetiam a toda hora que o Presidente FHC comeu nas eleições e quem eu era então para recusar? Me aguardem nas festas juninas, pois estarei aí para ensinar vocês a dançar forró. Nos Falcões da Serra, tem um motociclista que é digno de nota: é o Tio Bello, 82 anos, 1,55 m, pilotando uma Suzuki Hayabusa. Realmente, o motociclismo não tem idade, mas, neste caso, resta saber quem está abusando de quem. A festa termina às 15 horas. Às 18 horas, chego em Caruaru, encontro o Jorge, que, além de ter um grupo de show The Welling, ainda pertence ao Raposas do Asfalto. Mais tarde, falo que estou indo para Recife e todos me dão o endereço do Armandinho, do Recife Moto Clube. No primeiro hotel, entro e caio, literalmente, desmaiado. Este povo só bebe e não fica bêbado. No dia seguinte, vou conhecer Armandinho, essa figura para a qual todo o nordeste só tem elogios. Ele é dono da revenda Triumph, Ducati e Cagiva. De Recife, eu teria que ter ido conhecer os Cavalos Doidos em Paulo Afonso-Bahia; a desculpa fica para junho deste ano. No fim da tarde, chego a Maceió e vou ver umas jangadas que eu tinha comprado no passado para fazer propaganda. Ainda estavam nas mãos da mesma pessoa. Procuro o grupo de moto Nômades do Asfalto, mas não acho o Juarez; ele estava viajando para os lados de Minas Gerais. Em Aracaju, o Jorge Simões me dá as boas-vindas e recebo o convite para um encontro à noite com os Raposas do Asfalto. Almoço na praia; às 13 horas, estou a caminho de Salvador. Na cidade de Estância, entro na Linha Verde; uma bela estrada me faz chegar rápido. Em Salvador, tiro fotos na praia de Itapuã. O Moto Clube Feras do Asfalto também vou deixar para trás. Amigo Rocha, vou fazer uma viagem só para visitar os irmãos do Nordeste. Chego em Feira de Santana às 20 horas. Quando estou chegando em um orelhão, uma Ranger sem placa para e pergunta se preciso de algo. Falo que procuro o Agnaldo, do Grupo Feira Moto Estrada. "Sou eu mesmo", responde o condutor da Ranger. Após 3 horas tomando cerveja e conhecendo mais uns 10 integrantes do grupo, é que me convenci de que o Agnaldo era realmente o Agnaldo. Me parece que meus anjos da guarda se deram bem com todos os Exus e Iemanjá da Bahia. A pernoite é em um motel 3 estrelas, pois o Agnaldo recebe várias cortesias por mês nesse motel. Cedo, saio em direção a Barreiras, com o Agnaldo me escoltando por uns 30 ou 40 km. De Salvador para o Chuí é só ir margeando o mar e, em três dias, você chega ao Chuí. Como me comprometi com a revista Duas Rodas a fazer a maior viagem de moto dentro do Brasil, hoje vou para Barreiras (BA), no rumo de Palmas, a capital de Tocantins. Preciso procurar nas entranhas do Brasil as capitais do Brasil central. São 17 horas quando entro em Barreiras, com a torneira do céu aberta e o estômago grudado nas costas. Na Bahia, é moda por placas de perigo a 100 metros; isso é traduzido para buracos enormes que mais parecem lagoas. Nesta cidade que eu achava pequena e perdida no meio do nada, encontrei o grupo Xerifes do Asfalto, com mais de 50 integrantes; a festa foi até altas horas. De Barreiras para Palmas, a estrada é bem sinuosa; em compensação, boa. Tem trechos com mais de 100 km sem posto de gasolina. Chego à tarde em Palmas. Me parece uma Brasília mal copiada; em cada fim de rua, uma rotatória. Ali é a capital mundial das rotatórias (redonda, rótula, etc.). Menos de 2 horas depois, já estou no rumo da rodovia Belém-Brasília. Acordei em Paraíso do Tocantins (GO). Fui despertado com uma bomba d’água que me acompanhou até próximo a Goiânia. Na Belém-Brasília, 50% tem asfalto de primeiro mundo e 50% asfalto brasileiro, com cheiro de corrupção ou engenheiros burros. O asfalto é para durar 10 anos, no Brasil dura no máximo 5; você vê asfalto se partindo no primeiro ano e ninguém é responsabilizado. Em Goiânia, procuro o Paulo, meu irmão de 30 anos de cachaça, mas não o acho em casa. Tiro fotos e me largo para Brasília. No meio do caminho, vejo o ônibus dos Abutres e falo para Pateta e Medalha que o pessoal dos Falcões da Serra mandou um abraço. Na hora, sou convidado para um encontro de moto a 90 km na cidade de Pirenópolis, que, por sinal, é uma cidade antiga e muito bem conservada, onde o pessoal de Brasília tem casa de campo. Dois dias de chuva travaram o encontro. No terceiro dia, 15 de novembro, volto para a estrada, deixando o encontro com muito sol. Entro em Brasília, bato várias fotos e vou dormir em Belo Horizonte. Ao acertar com a revista Duas Rodas que a moto ficaria exposta no salão Duas Rodas no estande da revista, além do cabo do acelerador ter ficado mais esticado, aproveitei ao máximo da luz solar. Em Belo Horizonte, acordo e vou à Lagoa da Pampulha; à noite, conheci o Bruno, do grupo Tamo Junto, que se transforma em um grupo enorme. Ao sair de Belo Horizonte, entra chuva, e na BR 262 vi um bar, com várias mesas fora e uma música bem tocada. A primeira mesa estava ocupada por duas meninas, a segunda por 4 amigos (duas motos) e a terceira por 6 amigos de outras motos. Então fui logo puxando assunto com as meninas e, quando percebi, já estava com a turma do forró e fiz a festa até às 3 da manhã. Acordei às 8 horas e não lembrava onde estava; é que tinha dormido na casa dos amigos dos amigos. Na manhã seguinte, saio com o pé na estrada. De São Paulo, chega a chamada "A Grande São Paulo". Quando chego em São Paulo, me surpreendo com os viadutos; é a maior obra de arte que já vi em toda minha vida. Fui de um viaduto para outro; em um deles, um solitário a pé, carregando uma sacola, cruzava a rua e mais 500 metros abaixo, outro viaduto com uma pista livre, sem nenhum carro, um perfeito ralo que me remeteu às máquinas das ruas de São Paulo. Essa cidade tem carros, as motos são coisas de rua. Com saudade dos amigos e de um ex-guitarrista que tocava violão, chego em Santos e, em São Vicente, vou na casa de minha amiga que conhece quase todos os músicos que conheço; ela foi visitar a mãe e não estava em casa. Olhei no relógio, já eram 15 horas, e fui para o centro da cidade. O som que eu procurava tocar não era em São Vicente, mas no Bar do Leco, em Santos. No lugar, ninguém cantava, e resolvi ajudar. Uma música atrás da outra. Às 22 horas, depois de muita farra, já estava sem voz e um pouco envergonhado, porque um bar pequeno e cheio, ninguém cantava e ficou comigo de graça. Agora é pegar a moto e voltar a São Paulo. Chegando lá, ligo para o Ricardo e o Otávio; o Ricardo me dá o endereço da loja, mas o Otávio não tinha, já que estava em uma festa. Às 21 horas, estou na frente da loja e vejo um cara de moto dando uma volta e quando percebo que era ele. O cara chegou a pé e se despediu como se não houvesse amanhã. Na hora que liguei a moto, a mulher estava do lado e me parou para me oferecer um desconto, mas pedi apenas o valor que eu tinha, e ela aceitou, desde que eu pagasse em dinheiro. Já não aguento mais a estrada. Assim que sair da loja, pego a estrada de volta a São Paulo. São Paulo é a capital do Brasil. Mais do que isso, é a capital do mundo. Um dia, vai ser a maior cidade do mundo. Se os administradores não se preocuparem com a qualidade de vida, muita gente vai se estressar. O que falta é cultura e educação.

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(Diário) de Florianópolis ao Alasca
15 Motos e um Destino: Valparaíso, no Chile
 

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Quinta, 21 Novembro 2024
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