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Relato de viagem
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(Diário) de Florianópolis ao Alasca - Page 12

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07/08 à 09/08 - ALASCA - PRUDHOE BAY - CALGARY - CANADÁ             De baixo de chuva vou deixando Prudhoe Bay, onde acaba a estrada e começa o mar, e junto a esta cidade que não é cidade (mas é o maior campo petrolífero da América do Norte, e é dali que diariamente perto de 1,45 milhões de galões de petróleo são transportados na Trans-Alaska Pipeline, um imenso oleoduto que liga a baía de Prudhoe  ao porto de Valdez).             Fica agora no chão molhado um sonho realizado, mesmo com a estrada cheia de lama a moto parece que viaja em outra dimensão, deve ser o peso da preocupação se ia ou não chegar, os runs que tomei para comemorar a chegada também estão ajudando esta pilotagem, o deslizar dos pneus na lama agora é musica para os meus ouvidos.             A primeira coisa que vem em mente quando pensamos no Alasca  é um lugar totalmente inóspito, habitado apenas por Esquimós, coberto de gelo e neve e sempre com temperaturas abaixo de zero e no Maximo a tundra como vegetação. Mas o Alasca, é uma terra de grandes contrastes , e esconde muita riqueza e diversidade, há tundras secas, florestas úmidas, geleiras, e pessoas vivendo normalmente como em qualquer outra estado americano etc...             Sou o Primeiro latino americano a fazer Ushuaia X Alasca de moto, e quando eu chegar em Palhoça (SC) serei o primeiro motociclista no mundo a contornar as três Américas, e ainda quando chegar no Ushuaia , ai sim a coisa vai ficar boa para entrar no Guiness Book, de Palhoça (SC) a Ushuaia rodei 5.020 km, e do Ushuaia X Prudhoe Bay rodei 26.670 km.             Quando eu cheguei a Prudhoe Bay, o velocímetro marcava 31.690.km (Kilometragem aproximada pode ter um erro de 100 ou 200 km pois não estou aqui com o meu gravador). A volta deve ser um pouco maior pois só o Canadá de costa a costa tem 8.000 e poucos kilometros.             Quando o relógio marcava 2:15 da madrugada, eu estava a 20 km de Coldfoot (pé frio ou pé gelado), o cansaço me derrubou , acampei na beira de um rio no meio do nada e mesmo assim havia um banheiro, ali era uma área de descanso, e tem mais, tinha lixeira também. O que  os dólares do petróleo não fazem eu fico me perguntando. Faço uma fogueira, seco as minhas luvas, esquento uma lata de sopa e outra  de feijão, dois runs, faço o sinal da cruz e agradeço aos meus anjos da guarda e durmo embriagado, pelo feito realizado.             Às 8 horas da manhã eu acordo e vejo o sol, bato algumas fotos da barraca e quando chego a Coldfoot é que vejo que escapei de uma boa, pois se rodo mais 30 km eu novamente teria enchido de água a minha barraquinha. O pátio onde tem o restaurante, hotel e o alojamento das companhias de petróleo (3 Alojamentos) tinham se transformado em um mar de lama.             Agora só preciso encher o tanque da moto e ainda estou a 240 km de Fox onde tem gasolina. A moto sai rodando, pesada na lama, o efeito da leveza da euforia de ontem já passou, a realidade agora é outra ou seja já estou voltando e trago de bagagem o peso da responsabilidade de voltar ao Ushuaia.             Isto faz a pilotagem ficar pesada. Agora com o capacete fechado e nesse mar de lama fico pensando numa frase que minha filha Chayenne me disse :             "PAI, O MUNDO INTEIRO ABRE CAMINHO PARA O HOMEM QUE SABE AONDE VAI."             Passo novamente pela linha do círculo polar ártico e bato mais umas fotos, quando são quatro horas da tarde chego em Fairbanks, busco a minha mala na BMW. Resolvo trocar os filtros da moto, mas ele não tem filtro de ar, somente o de óleo.             Vou ao supermercado que comprei a barraca e reclamo que a mesma está entrando água, e para meu espanto, não é que eles me entenderam e me deu outra sem reclamar???             Saio com a barraca nova, como um sanduíche e me mando desta cidade caríssima. Sem antes ter lavado a moto, ou melhor ter tirado devem ter sido mais de 30 kilos de barro em cima dela, o radiador da água era só lama. Eu mesmo me lavei no posto (você põe 1,50 e tem dois minutos de água com pressão a quente, usei 6 minutos só para tirar o barro).             Da estrada voltei na BMW para comprar as pastilhas de freio, não tinha. Devido à lama eu só usei o freio traseiro as pastilhas estão no ferro, acho que vou precisar de um disco novo. Andando na lama e nervoso para não cair acabei não ouvindo chiado do ferro com ferro, e se ouvi devo ter achado que era o barro. Ligo para meu irmão Roberto,  que mora em Calgary e peço para ele ver onde tem pastilha no meu caminho de passagem.             São quase 1 hora da manhã, o sol ainda abaixo do horizonte, continua mandando luz, paro num hotel e pago 75 dólares para dormir. Tinha começado a chover e não queria me molhar novamente, no outro dia acordo e vou direto para a moto. Lembrei que tinha um jogo de pastilhas usadas na mala da moto, como o efeito da adrenalina tinha passado, fiz tudo errado tirei roda fora e tentei tirar as pastilhas pelo lado errado e quando finalmente eu me lembrei como tirar é que vi que as pastilhas eram dianteiras. Monta roda, monta pinça de freio, tudo novamente. Eu cheguei a tirar a pinça de freio achando que os pinos das pastilhas tinham encravado.             Rodei 120 km sem pastilha, paro num posto e quando estou colocando óleo de freio para do meu lado uma BMW, com reboque e tudo mais. Vou mexer na minha moto e ela cai encima da outra BMW. Acabou arranhando a moto do cara, um mexicano que estava comigo falou que o cara foi culpado pois viu eu mexendo na moto e colocou a dele ao lado da minha. Agora com  as pastilha no ferro puro saio rodando só com o freio dianteiro, com chuva isto não é nada agradável, as pastilha mesmo no ferro em caso de emergência dá para usar e mandar o disco para o espaço.             Rodo o dia todo passo pela fronteira dos EUA com o Canadá, como não havia ninguém do lado canadense passo direto. Depois de ter rodado 250 kilometros, em um posto de gasolina recebo um telefonema, eu só dizia : "I don´t speak English" e tudo que eu entendia era Tomorrow (amanhã) White Horse (cavalo branco),Police. Liguei para o Roberto e ele falou com o cara do posto, que me explicou o problema, eu havia passado fronteira sem parar, ou seja, eu havia invadido o Canadá.             A fronteira é tão tranqüila que não havia ninguém, e e eu teria que me apresentar em Whitehorse, para justificar para a policia porque eu havia feito aquilo". O dono do posto falou para o pessoal da fronteira que em qualquer parte do mundo sempre tem alguém do país recepcionando as pessoas que chegam, como não vi ninguém achei que a fronteira era fechada. Encontrei um americano com uma BMW rodamos mais 100 km e dormimos em um camping, fiz uma bela duma fogueira que dava para assar um boi, é que nos campings tem lenha serrada para você queimar, em uma espécie de latão com grelha além de muita mordomia e tudo de graça, inclusive com banheiro e tudo mais, (menos chuveiro) o banho tem que ser enforcado, mais nesse frio até que não ter chuveiro é uma boa desculpa.             Fui dormir com 870 km rodados. No outro dia, o americano roda comigo mais uns 200 km e entra na bendita cidade de whitehorse dou adeus para o americano que entrou na bendita cidade que a policia quer me pegar, saiu num pau só, o americano não deve ter entendido nada. Hoje rodei até as 2:20 da manhã, pois não achava camping, quando já tinha rodado 1080 km achei um hotel que dizia "Open 24 hours" abri a porta e não vi ninguém, só vi um quadro de aviso dizendo quais os quartos que estavam vagos fui no 1º aberto e coincidia com o que estava escrito no quadro vacancy. Entrei bati a porta e acordei com o ronco de uma moto saindo, pulei da cama achando que era a minha moto saindo pois ficou toda minha bagagem nela, mas não, era outra moto com o casal me dando adeus.             Hoje entrei na estrada mais linda do mundo fica dentro de um parque nacional  e você tem que pagar para passar por esta estrada que se chama Ice Icefields Parkway (que é também o nome do parque) a cada curva eu parava para fotografar, é uma estrada entre montanhas imensas com os picos sempre cobertos de neve, levei umas 6 horas para fazer 200 kilometros desta estrada que deve ser com certeza a mais linda do mundo.             As 8 horas da noite em um cruzamento da 1 com a 93 encontro o meu irmão Roberto, ele estava indo para sua casa de campo a 300 km de Calgary e combinamos de nos encontrarmos ali. Há 25 anos atrás quando moramos em Manaus, nós sonhamos em fazer esta viagem juntos. Hoje eu realizo um sonho de 25 anos, ele esta ha 24 anos morando no Canadá. A casa do homem fica a beira de um lago, ali o mais pobre come caviar, hoje comi churrasco de carne mesmo só que não custou menos de 100 dólares canadense isto porque compramos carne e tudo mais em um supermercado. A minha moto chegou nessa cidadezinha com um barulho acentuado de válvula, achando que trocando o óleo e os filtros isto iria parar, troquei o óleo e o barulho aumentou.             Cheguei na casa do Roberto quinta feira a noite, pois sexta e segunda-feira ia ser feriado no Canadá aproveito para descansar pois já rodei mais de 4,400 km, no rumo do Brasil e posso parar para lavar roupa , cuidar da moto e do velho esqueleto. Segunda-feira cedo o Roberto me leva para conhecer outras cidades no rumo de Calgary onde ele mora, cada lugar mais lindo que o outro só que a moto não dá bons sinais, o barulho aumenta cada vez mais, e vem do  comando de válvula, e o que era para ser um passeio se torna um martírio, eu estou vendo minha companheira de viagem começando a entrar em colapso. Parece que ela vai se arrastando na estrada, esforçando-se para não me deixar a pé, chegamos em Calgary onde o Roberto mora, achei que ela não iria chegar.             Pela manhã fomos na concessionária BMW, o diagnóstico veio rápido, trocar o motor já que a moto esta na garantia vamos falar com a BMW do Canadá para que esta fale com a da Alemanha para que fale com a BMW do Brasil, ou seja acho que vou ter que conseguir um emprego aqui, pois serão 10 dias para trocar o motor se a BMW do Brasil autorizar ou 20 dias se eles tiverem que abrir o motor e trocar as peças. já liguei duas vezes para o Sergio da BMW do Brasil, mais duas vezes para o Cícero da  Revista Duas Rodas para que eles me ajudem junto a BMW do Brasil de forma que agilizem a coisa toda. A moto está na garantia e é garantia mundial (vamos ver!).O Patric da Jetsports concessionária BMW de Florianópolis onde eu compro as minhas motos também já entrou em contato com a BMW do Brasil e do Canadá fornecendo cópia da nota fiscal provando a compra da moto e a garantia dela, agora só resta esperar e pedir ajuda aos meus anjos da guarda para lidar com este povo burocrático que vai me deixar de molho por algumas semanas.             Agora eu só posso gritar.......TIRA O FEIJÃO DO FOGÃO QUE EU VOU DEMORAR ...MAIS NÃO DEIXE O FOGO APAGAR....PORQUE EU CONTINUO VOLTANDO..!! Ponha de volta o feijão  no fogo que eu retomei a viagem!         



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